Da dificuldade de lidar com a ‘cantada’

Eu tenho um problema. É meio constrangedor, mas vamos lá: eu não sei lidar com a ‘cantada’. Pior: fico reticente com quem me ‘canta’ (se eu não estiver interessada, bem entendido ;-)). #prontofalei

Outro dia, fiquei pensando se desenvolvi isso aqui em Londres ou durante minhas viagens – sozinha – pelo continente europeu. Não foi; eu já era assim no Brasil.

Aliás, talvez seja justamente essa a origem da minha atitude: não há como negar que os longos verões do Brasil são um convite eterno à cantada de mau gosto. Aquela em que o fulano olha pra nós, mulheres, com cara de cachorro no cio (ou cachorro louco!). Engana-se quem pensa que essa atitude seja exclusiva dos pouco escolarizados; tive amigos na faculdade que agiam assim. Ainda bem que não comigo.

E há quem diga que mulher que usa minissaia e decote está ‘pedindo’ a cantada (ou coisa pior). Acho de uma miopia – pra não dizer machismo e falta de tato – impressionante alguém dizer isso. Realiza: está calor e a mulher não pode usar roupa de verão pra não ser assediada? Se somos seres racionais e vivemos em sociedade, deveríamos ser capazes de conter nossos impulsos irracionais. Ou não, certamente pensarão alguns.

Nem sempre, porém, a roupa tem papel principal na cena da cantada. O que mais me perturba é a cantada ‘civilizada’ vinda de alguém próximo (colega de trabalho ou de faculdade, irmão da amiga, amigo do amigo…). Não sei lidar com isso de forma nenhuma.

Se ouço uma gracinha na rua quando passo, xingo o autor e pronto (literalmente: não sou daquelas que se indignam, mas seguem em frente caladas enquanto a cabeça fervilha de desaforos nunca falados). Independentemente de a cantada ser elogiosa ou não, odeio ser julgada pelas minhas roupas. É como se o que eu visto tivesse uma conotação sexual intrínseca e irrefutável que, paralelamente, exigisse uma atitude imediata do macho-alfa que me vê.

Quando a cantada vem de alguém do meu círculo de amizades, porém, fica bem mais difícil. Minha primeira atitude é me afastar (muito) do ‘cantador’ e agir de forma bastante dura com ele. Cruel, às vezes. Eu tenho consciência total disso, mas não consigo agir de outra forma. Simplesmente porque não sei de que forma agir.

Em alguns casos são cantadas lisonjeiras e delicadas, mas na tentativa de deixar claro meu ‘não-interesse’, ajo com radicalismo. Já me recusei, por exemplo, a abraçar um amigo na confraternização de fim de ano para evitar que ele imaginasse que podia continuar com as investidas. E já fiquei sem palavras quando um colega me perguntou por que eu o tratava com frieza.

Conheço muitas mulheres que deixam claro que não estão interessadas de forma direta e objetiva sem se afastar ou agir com frieza. Eu não consigo. Acho que, por eu ser muito brincalhona, poucos me levam a sério se não mudo radicalmente minha atitude. Se alguém aí conhecer uma fórmula que me ajude a lidar melhor com isso, pago bem! 😛

Claro que quando existe interesse mútuo, a história muda. Além, é claro, de as palavras soarem como música aos ouvidos. Nesse caso, se recebo uma cantada (e ela nem precisa ser muito criativa), não fico brava; fico toda contentezinha e faceira. 😉

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